Pelo menos 44 mortos em agosto em Cabo Delgado
- 21/10/2025
De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".
Para o OCHA, o número de deslocados pode estar subnotificado, quando, segundo aquela agência da ONU, há "relatos" de autoridades "recusando-se" a registar novos deslocados internos para "evitar a concorrência com as comunidades de acolhimento".
Acresce ainda que a insegurança, combinada com reduções "significativas" no financiamento humanitário, limitou "severamente" a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.
"A violência contra civis, as operações militares, os avistamentos dos grupos armados não estatais e os rumores de raptos e pedidos de resgate tornaram o acesso imprevisível nos distritos com maior gravidade de necessidades e incidentes", descreve-se, acrescentando o relatório que a situação resultou na suspensão temporária das missões humanitárias nas zonas rurais dos distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Meluco e Metuge no início de agosto.
De acordo com o OCHA, em agosto o financiamento para as organizações no terreno era metade do que estava disponível no mesmo período do ano passado, reduzindo a presença humanitária e limitando a capacidade dos parceiros de se adaptarem a um contexto operacional dinâmico ou de alargarem as respostas às necessidades emergentes das cerca de 208 mil pessoas afetadas pelo conflito.
Oito anos depois do primeiro ataque, o Governo afirmou este mês que continua a fazer esforços para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades permaneçam nos lugares de origem em paz.
Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.
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