Parte flotilha para Gaza. Rangel recusa proteção (que Espanha garante)
- 31/08/2025
Enquanto o Governo português continua a recusar apoiar a flotilha em direção a Gaza, com a deputada Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício, o executivo espanhol veio garantir toda a proteção necessária aos cidadãos espanhóis que seguem na frota, cujos primeiros barcos partem este domingo de Barcelona.
No sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, reiterou a posição já expressa há dias e atirou: "É algo que me parece inusitado", disse à Lusa. Segundo o governante, o Estado português "não tem nada que proteger, nem acompanhar" a flotilha humanitária que vai tentar levar apoio humanitário à Faixa de Gaza e romper o cerco israelita que bloqueia a entrada de qualquer assistência ao enclave palestiniano.
Enquanto decorria uma reunião ministerial informal, no âmbito da presidência dinamarquesa do Conselho da União Europeia, em Copenhaga, Paulo Rangel explicou que a iniciativa é da sociedade civil e que "o Estado português não organizou esta missão, o Estado português não está vinculado a esta missão".
"Não vamos agora pôr a frota da Armada Portuguesa a acompanhar esta flotilha ou a desencadear uma guerra contra Israel, não sei bem o que é que se pretende", completou o governante, recordando que a imunidade parlamentar da coordenadora do Bloco de Esquerda não dá a Mariana Mortágua imunidade diplomática.
"A iniciativa com certeza que é louvável, os próprios [integrantes] disseram que tem uma natureza simbólica e isso é compreensível, a situação da catástrofe humanitária em Gaza é realmente terrível e eu compreendo que cada um, à sua maneira, entenda usar os meios que deve, mas é uma iniciativa da sociedade civil", comentou.
"Outra coisa diferente, mas isso é devido a qualquer cidadão português, não há aqui nenhuma excecionalidade, nem sequer pela questão de ser deputado ou deputada [...], evidentemente que o Estado português usa da proteção consular, havendo algum problema", acrescentou, assegurando que está garantida para os três portugueses que tentaram penetrar o bloqueio israelita a Gaza.
Saliente-se que, numa conferência de imprensa, Mariana Mortágua tinha referido que os três participantes portugueses nesta missão, incluindo a própria, tinham enviado uma comunicação ao Ministério dos Negócios Estrangeiros com as "informações essenciais" sobre a missão, defendendo que Portugal deve garantir a segurança de quem a integra.
Espanha promete proteção diplomática à flotilha
Aqui mesmo ao lado, o governo espanhol viria a assegurar que vai dar proteção diplomática à flotilha, tal como aconteceu no passado.
"Noutras ocasiões, com outras flotilhas, é claro que estivemos em contacto com as autoridades e os seus membros, e implementámos toda a proteção diplomática e consular. Desta vez será o mesmo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, em declarações à Rac1, segundo cita o El Mundo.
O governante defendeu ainda que não permitir a passagem de ajuda humanitária viola o direito internacional. "Compreendo que haja cidadãos que queiram fazer o máximo possível. O governo de Espanha é também o que mais faz no mundo para parar esta guerra", notou.
De notar que a frota humanitária com destino a Gaza, com o nome Global Sumud Flotilla, vai integrar cerca de 50 barcos com ajuda humanitária e centenas de pessoas a bordo, entre elas, ativistas, políticos, artistas ou outras figuras públicas oriundas de 44 países. Esta é descrita, pela organização, como a "maior missão de solidariedade da história".
Os primeiros 30 barcos saem este domingo de Barcelona, no nordeste de Espanha, e outros se unirão, em 04 de setembro, em Tunes, oriundos de diversos portos do Mediterrâneo.
A organização prevê que a viagem até Gaza leve perto de duas semanas.
Três portugueses vão integrar a Global Sumud Flotilla: a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício.
Miguel Duarte - que se tem dedicado aos direitos dos migrantes e ao resgate de pessoas no Mediterrâneo - disse à Lusa que esta iniciativa pode ser "um ponto de viragem na história destas 'flotillas' para Gaza", a partir do Mediterrâneo, que já têm quase duas décadas.
"É de longe a maior e penso que é de longe a que tem mais probabilidade de conseguir efetivamente fazer chegar a ajuda humanitária a Gaza", afirmou.
Além da dimensão, a Global Sumud Flotilla terá, à partida, uma visibilidade também inédita, por integrar "gente de muitos países e gente com plataformas", como "deputados e eurodeputados, ativistas conhecidos, atores de cinema", sublinhou.
As comitivas dos diversos países integram políticos e outras figuras públicas conhecidas das respetivas opiniões públicas de cada país, estando também confirmada a presença de nomes conhecidos mundialmente, como o da ativista sueca Greta Thunberg ou da atriz norte-americana Susan Sarandon.
A Global Sumud Flotilha é uma iniciativa de diversas organizações não-governamentais (ONG), entre elas, a Flotilha da Liberdade, a Flotilha Sumud do Magrebe, o comboio Sumud Nusantara e do Movimento Global Para Gaza, bem como de outras organizações internacionais.
Israel tem em curso uma ofensiva militar na Faixa de Gaza desde que sofreu um ataque do grupo islamista Hamas em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
De acordo com dados divulgados pelas autoridades do enclave palestiniano, a ofensiva lançada por Israel em Gaza já fez mais de 63 mil mortos.
Em 22 de agosto, a ONU declarou oficialmente a fome na cidade de Gaza, depois de os especialistas terem alertado que 500.000 pessoas se encontram numa situação catastrófica.
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