Nova PM do Japão vai criar "programa económico" para enfrentar inflação
- 21/10/2025
Admitindo que o seu mandato será difícil, Sanae Takaichi afirmou que "a prioridade" do Governo será ajudar o povo japonês a lidar com a inflação e apelou à estabilidade política para mitigar o impacto da subida dos preços.
"O desafio mais urgente será o de amenizar o impacto do aumento dos preços num contexto de estagnação ou de declínio real dos salários", que levou os cidadãos a diminuírem o seu nível de vida, defendeu.
Conservadora e líder da ala ideológica mais dura do Partido Liberal Democrático (PLD), Takaichi é considerada a herdeira ideológica do ex-primeiro-ministro assassinado Shinzo Abe, tendo sempre elogiado as opções económicas do seu mentor.
As políticas económicas, defendidas por Abe durante o seu segundo mandato como primeiro-ministro (2012-2020), baseavam-se numa flexibilização monetária agressiva, no estímulo orçamental e em reformas estruturais.
A situação económica do Japão apresenta hoje aumentos dos preços ao consumidor acima da meta de 2% prevista pelo Banco do Japão, pelo que o banco central tem estado a aumentar as taxas de juro que estavam, há vários anos, perto ou abaixo de zero.
As taxas baixas levaram o iene japonês a manter-se desvalorizado face ao dólar, aprofundando a inflação, uma vez que grande parte do que o Japão consome é importado.
Por outro lado, os salários dos japoneses mantêm-se perto do nível de há 30 anos.
Repetindo muitas das promessas dos seus antecessores, Takaichi prometeu também aumentar os salários, sem, no entanto, explicar como.
A população do Japão tem vindo a diminuir e a envelhecer rapidamente há anos, levando à escassez de mão-de-obra e minando o potencial de crescimento económico do país.
Embora seja uma conservadora convicta na maioria das questões sociais, Takaichi afirmou ser favorável à concessão de incentivos fiscais às empresas que ofereçam creches aos seus colaboradores e a possíveis isenções fiscais para despesas familiares com creches.
Quanto à política externa, a nova primeira-ministra referiu pretender levar as relações com os Estados Unidos a "novos patamares" durante o encontro que terá com o Presidente norte-americano, Donald Trump, previsto para o início da próxima semana.
Trump deverá chegar a Tóquio na próxima segunda-feira para uma visita de três dias, durante a qual Takaichi irá discutir questões bilaterais, bem como a situação no Indo-Pacífico, a guerra na Ucrânia e as tensões no Médio Oriente.
A primeira-ministra não especificou, no entanto, se irá discutir com Trump a questão das taxas aduaneiras norte-americanas ou o acordo comercial com Washington, depois de declarar, após a sua eleição para chefiar o partido no poder, no início de outubro, que não descartaria uma revisão do pacto com os Estados Unidos se este não servir os interesses do Japão.
"Faremos o nosso melhor para aliviar o impacto das tarifas norte-americanas", disse hoje Takaichi.
Tóquio e Washington chegaram a um acordo comercial em julho, após meses de negociações, segundo o qual o país asiático deverá pagar tarifas de 15% e investir 550 mil milhões de dólares (cerca de 473 milhões de euros) nos Estados Unidos.
A conservadora, que fez hoje história ao tornar-se a primeira mulher à frente do Governo do Japão, confirmou ainda que vai participar na cimeira da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), que se realiza na Malásia de 26 a 28 de outubro, e na cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico), de 31 de outubro a 01 de novembro, na Coreia do Sul.
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