Noruega tem fundo para suprir necessidades financeiras de Kyiv
- 08/11/2025
Vários partidos noruegueses, incluindo apoiantes do governo trabalhista, estão a pressionar para que este país escandinavo, por vezes visto como um "aproveitador da guerra", faça a sua parte, de modo a eliminar o obstáculo que impede a Europa de utilizar os ativos russos congelados para ajudar a Ucrânia.
"É absolutamente essencial para a segurança europeia que a Rússia não triunfe com a sua guerra de agressão ilegal", disse à agência de notícias francesa AFP Guri Melby, líder do pequeno partido Liberal, da oposição norueguesa.
"A Noruega tem os meios económicos para se comprometer como fiadora de um empréstimo, que permitirá à Ucrânia defender-se melhor da Rússia, e acho que devíamos fazê-lo", acrescentou.
As finanças públicas dos Estados-membros da UE são frequentemente muito frágeis, por isso a Comissão Europeia pondera utilizar uma parte dos ativos russos congelados após a invasão da Ucrânia para dar a Kyiv um empréstimo de 140 mil milhões de euros, sem juros, a fim de financiar o seu apoio orçamental e militar a este país em guerra nos próximos dois anos.
Mas a Ucrânia só reembolsaria este empréstimo se a Rússia algum dia lhe pagasse as indemnizações pelos danos causados pela guerra.
E a Bélgica, onde se encontra a sociedade Euroclear, que gere a maioria dos fundos em questão, exige garantias de outros Estados para partilhar os riscos, caso, por exemplo, de a Rússia conseguir recuperar os seus ativos congelados.
Assim, trata-se de um pedido difícil de aceitar para Estados já fortemente endividados, como a França.
Argumentando que a Noruega, o maior produtor de hidrocarbonetos da Europa Ocidental, ganhou 109 mil milhões de euros adicionais devido ao elevado aumento do preço do gás com a guerra, dois economistas noruegueses sugeriram que o seu país se envolvesse, mesmo não sendo membro da EU, na ajuda financeira à Ucrânia.
"Ao arrecadar esses lucros, o governo norueguês transformou o país num beneficiário da guerra", defendem Håvard Halland e Knut Anton Mork num artigo publicado a 22 de outubro.
Graças à sua classificação AAA - a mais alta possível dadas pelas agências financeiras --- e ao seu fundo soberano de cerca de 1.800 mil milhões de euros - o maior do mundo -, a Noruega "poderia, sozinha, assumir a responsabilidade associada a uma nova dívida ucraniana, sem que isso prejudique a sua classificação de crédito", afirmam.
A ideia, à qual o jornal dinamarquês Politiken deu maior destaque, teve grande repercussão junto de responsáveis políticos europeus. "Seria fantástico", afirmou a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, durante a cimeira da UE, em Copenhaga, no mês passado.
Em Oslo, o governo trabalhista, que já planeou dar uma ajuda civil e militar no valor de mais de 23 mil milhões de euros a Kyiv no período 2023-2030, adota uma postura de prudência.
"Estamos a acompanhar de perto a evolução da situação e continuamos o nosso diálogo com a União Europeia", comentou a secretária de Estado do Ministério das Finanças, Ellen Reitan.
Segundo informações da AFP, a Noruega discute com Bruxelas, mas não prevê por enquanto, assumir sozinha o papel de rede de segurança.
Os Verdes noruegueses consideram tornar o assunto uma das suas exigências nas próximas discussões orçamentais com o governo trabalhista, que precisa, entre outras coisas, dos seus votos para aprovar a lei orçamental de 2026.
"A Noruega é o único país na Europa que tem tanto dinheiro guardado e que consegue disponibilizar tal quantia, sem ter de contrair empréstimos nem aumentar os impostos", garante o seu líder, Arild Hermstad, à AFP. "Além disso, ganhámos tanto dinheiro devido a esta guerra que é simplesmente uma obrigação moral", concluiu.
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