"Não me calarei". Ativista promete continuar luta após homicídio do irmão
- 20/11/2025
O ativista francês antidrogas Amine Kessaci garantiu, esta quarta-feira, que não ficará "em silêncio" após a morte do irmão mais novo ter sido morto a tiro por traficantes em Marselha, no sul de França. O crime ocorreu cinco anos após o assassinato do seu irmão mais velho.
Mehdi Kessaci, de 20 anos, foi morto a tiro na passada quarta-feira, quando estacionava o seu carro no centro de Marselha. Em conferência de imprensa, o ministro francês do Interior, Lauret Nuñez, reconheceu que o homicídio foi "claramente um crime de intimidação".
Mehdi foi o segundo irmão de Amine a ser morto por traficantes de droga. Em 2020, Brahim Kessaci, de 22 anos, foi morto num triplo homicídio, após se envolver no tráfico de droga.
O corpo foi encontrado carbonizado num carro, juntamente com dois amigos. Após a morte do irmão, Amine criou a associação Consciousness, que tem como objetivo expor os danos causados pelos gangues às comunidades da classe trabalhadora.
Num artigo de opinião, publicado esta quarta-feira no jornal francês Le Monde, Amine Kessaci frisou que enfrentará os "assassinos" do irmão e que não ficará em silêncio, apesar das ameaças.
"Ontem, 18 de novembro, enterrei o meu irmão. O meu coração está cheio de dor. A dor consome-me, mas não abala a minha lucidez", começou por referir o ativista, de 22 anos.
Amine afirmou que a morte do irmão "não deve ser coberta pelas areias da indiferença e do esquecimento". "Mil vezes escreverei o seu nome e enfrentarei os seus assassinos. Serei o guardião da sua memória. Não, não me calarei. Direi e repetirei que Mehdi morreu por nada. Falarei da violência do narcotráfico. Do seu domínio", atirou.
O ativista comprometeu-se, ainda, a denunciar a "covardia dos mandantes dos crimes" e a "loucura daqueles que executam contratos e destroem vidas", além das "falhas do Estado, as falhas da República, os territórios abandonados e as populações destruídas".
Amine Kessaci - que lançou recentemente o livro "Marseille essuie tes larmes" ("Marselha, enxuga as tuas lágrimas"), onde retrata a sua infância num bairro pobre e homenageia a sua mãe argelina - recordou quando, em agosto, a polícia lhe pediu para deixar a cidade de Marselha e fechar as instalações da sua associação porque "estava a ser alvo" dos narcotraficantes.
"Não me disseram mais nada. As semanas passaram, sem me dizerem mais nada. Perante a minha insistência em saber, e porque as ameaças não cessavam, concederam-me proteção policial, mas sem a estender aos meus familiares", lamentou, acrescentando que a família "já tinha pago um tributo de sangue".
"Quem devolverá os filhos assassinados à minha mãe? O primeiro a cair, Brahim [cujo corpo foi encontrado a 29 de dezembro de 2020], repousa em Argel. O segundo, Mehdi, tinha 20 anos. Foi atingido no peito pelos seus assassinos. A sua única culpa era ser meu irmão. Quem me devolverá as nossas brincadeiras, as suas provocações, a sua ternura, o seu apoio? Falam-me de crime de aviso. Mas um crime nunca é um aviso. O sangue derramado é para sempre e mergulhou a minha família no infinito da morte", escreveu o ativista no artigo.
Amine acusou os narcotraficantes de tentar "aniquilar toda a resistência" e "matar na origem qualquer embrião de resolva para estender o seu poder" e defendeu a necessidade de o Estado francês "avaliar o que se passa".
"Ontem, enterrei o meu irmão e hoje falo. Falo e não me calarei porque a minha mãe me ensinou a não baixar a cabeça. Falo, desde o meu luto, desde o epicentro da minha dor, para pedir justiça para os meus, mas também para todas as outras vítimas. Falo porque só posso lutar se não quiser morrer. Falo porque sei que o silêncio é o refúgio dos nossos inimigos. Falo porque quero que mil vozes se elevem. Que a nossa revolta contra o narcotráfico seja duradoura e coletiva. Levantemo-nos juntos. Coragem. Não se pode matar todo um povo", concluiu.
Mehdi Kessaci tinha 20 anos© JEREMY MARTIN,MAXIME CONCHON/AFP via Getty Images
Macron pediu reforça da luta antidroga após morte de Mehdi Kessaci
Na terça-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao governo e às forças de segurança que reforcem a luta contra o narcotráfico, após o assassínio de Mehdi Kessaci.
Emmanuel Macron sugeriu um reforço da cooperação com outros países e maior vigilância para cortar os fluxos de entrada de droga no país, durante uma reunião que convocou para discutir o problema do narcotráfico.
Macron vai deslocar-se, em meados de dezembro, à cidade portuária mediterrânica, que é o principal ponto quente da luta contra o narcotráfico em França.
Já o ministro do Interior, Laurent Nuñez, e ministro da Justiça, Gérald Darmanin, vão a Marselha amanhã, no dia do funeral de Mehdi Kessaci.
Leia Também: Macron "disponível" para dialogar com homólogo argelino sobre migrações





.jpg)























































