Meios nos EUA vivem crise estrutural com internet, fechos e deserto noticioso
- 21/10/2025
O documento, feito pela Northwestern University, salienta que o ritmo de lançamento de sítios noticiosos digitais por empresários, com apoio frequente de filantropos, não compensa as perdas que se têm verificado.
Quando se dá um passo atrás para ter um olhar mais generalizado da indústria, o panorama é ainda mais perturbador. Desde 2005, o número de títulos publicados nos EUA caiu de 7.325 em 2005 para os atuais 4.490, segundo o relatório Medill State of Local News.
A circulação da imprensa diária que tinha uma média de 50 milhões a 60 milhões de pessoas na viragem do século está agora apenas em 15 milhões.
Cerca de 365.460 pessoas trabalhavam nos meios em 2005, e agora esse número baixou para 91.550, seguido o documento. Há duas décadas, 71% dos jornalistas trabalhavam em jornais e agora apenas 29% dos 42.000 existentes o fazem.
O número de jornais que fecharam no último ano está na média do que tem acontecido. A diferença é que a maioria dos que fecharam não foi em resultado de consolidação de grandes cadeias, mas eram velhos jornais independentes, cujos proprietários não os conseguiram manter, em lugares como Wasatch Wave, no Estado do Utah, ou o Aurelia Star, no Iowa, exemplificou-se no estudo.
"É muito desanimador", disse Tim Franklin, presidente do departamento de Meios da Escola Medill da Northwestern. "A parte desanimadora disto é que este é o tipo de proprietários que desejávamos manter".
Apesar de ter havido um aumento de sítios noticiosos digitais, a vasta maioria tem sido em áreas urbanas ou suburbanas, o que agravou a crise nas rurais. Um total de 50 milhões de pessoas vivem em condados sem meios noticiosos ou apenas com um, detalhou o relatório.
Os Estados da Maryland, Nova Jérsia, Maine, Havai e Ohio foram os que sofreram as maiores percentagens de fechos de jornais.
Dos 100 maiores jornais dos EUA, apenas 61 têm edições impressas todos os dias da semana, avançou a Northwestern; 18 saem quatro dias por semana ou menos; o New Jersey Star-Ledger é o único digital e o Atlanta Journal-Constitution revelou que vai acabar com a edição impressa no final do ano.
O tráfego nos sítios digitais destes 100 principais meios caiu 45% nos últimos quatro anos. Parte desta redução deveu-se aos números inflacionados causados pela elevada procura de informação pelas pessoas durante a pandemia.
Mas a perda de centralidade das notícias locais devido ao Facebook e ao aumento da inteligência artificial generativa em motores de procura também afastou as pessoas dos sítios noticiosos, disse Zach Metzger, diretor do Local News Project.
Filantropos têm procurado apoiar os meios. Mas Franklin afirmou que é a altura para medidas públicas impensáveis até há pouco, como créditos fiscais ou empréstimos.
Ainda mais assustador para os jornalistas é a ideia que há gerações que estão a crescer sem o hábito de seguir notícias, especialmente das suas próprias comunidades.
Porém, há algumas evidências que pode não ser o caso, relativizou Franklin.
A Northwestern fez uma sondagem junto de consumidores emChicago e apurou que 85% disseram que consomem notícias locais pelo menos uma vez por semana e metade diariamente, informou.
Mas fazem-no com recurso a diferentes meios - buscas em 'smartphones' é o que os jovens dizem que usam mais . Influenciadores em redes como a TikTok e a Instagram estão também a ser cada vez mais populares, se bem que mitos deles estejam concentrados em notícias nacionais.
"As notícias locais significam coisas diferentes para pessoas diferentes", apontou Franklin. "A indústria das notícias precisa de reconhecer as grandes mudanças na forma como as pessoas estão a consumi-las e formatar os seus produtos para encontrar as pessoas onde estão".
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