Espanha: Rede criminosa mantinha 322 imigrantes em condições "desumanas"
- 06/12/2025
Uma rede criminosa de tráfico e exploração de pessoas foi desmantelada numa operação conjunta entre a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanholas. Segundo anunciaram as autoridades, na quinta-feira, o organismo “introduzia cidadãos estrangeiros de várias nacionalidades, em situação irregular, para trabalhar em propriedades agrícolas nas províncias de Albacete, Alicante, Castellón, Ciudad Real, Cuenca, Múrcia, Valência e Saragoça”. Pelo menos 322 vítimas foram identificadas, a maioria de origem nepalesa.
A operação FRANCISKAN-EVEREST arrancou em julho de 2024, tendo culminado com a detenção de 11 pessoas, de acordo com uma nota divulgada pela Guardia Civil. Outras duas pessoas estão a ser investigadas “por crimes que incluem, entre outros, o favorecimento da migração irregular e o tráfico ilícito de mão de obra”.
No total, foram identificadas 322 vítimas, 294 das quais se encontravam em situação irregular em Espanha. Isto porque, segundo as autoridades, “o complexo modus operandi utilizado pela rede criminosa consistia em aproveitar-se de imigrantes irregulares que entravam com vistos de turista em países do território Schengen e, uma vez em Espanha, eram encaminhados para outras partes do território, onde os seus direitos laborais eram violados”.
“Para as suas atividades criminosas, a organização estava estruturada em diferentes ramificações interligadas, sendo uma delas dedicada a alojar e empregar esses estrangeiros na localidade de Villalgordo del Júcar (Albacete). Nesta localidade, a organização fornecia alojamento aos imigrantes, amontoando-os em colchões no chão, em zonas sem ventilação, com poucas casas de banho e em condições de vida totalmente indignas e desumanas, absolutamente desprovidas das condições mínimas de higiene e salubridade”, complementou a força de segurança.
Jornadas laborais chegavam a 12 horas
Os trabalhadores eram levados diariamente de Albacete para várias zonas agrícolas, em carrinhas, algumas das quais circulavam sem condições de segurança. Ocorreram, por isso, vários acidentes de viação, tendo uma pessoa de origem nepalesa morrido num deles.
Ainda assim, “a organização impunha condições de trabalho difíceis, com jornadas que por vezes chegavam a 12 horas, cobrando comissões abusivas pelas deslocações até aos locais de trabalho, pelas habitações que subalugavam e até pela comida fornecida nos locais de trabalho”. As autoridades detalharam ainda que, em muitos casos, “as vítimas trabalhavam para a organização criminosa durante meses sem receber qualquer tipo de remuneração, sendo o seu trabalho retribuído apenas com alimentação muito básica”.
A polícia levou a cabo nove buscas, oito delas em Villalgordo del Júcar e uma na localidade de La Roda, também em Albacete, nas quais foram apreendidos dinheiro em numerário, talões e cheques, assim como telemóveis, material informático, faturas, relatórios de trabalho, documentação fraudulenta, documentação comprovativa da atividade criminosa e contabilidade paralela clandestina. Foram ainda apreendidos 12 veículos, dois deles de alta gama, e bloqueadas várias contas bancárias geridas pela organização.
Vários imigrantes já foram realojados
“A exploração deixou os imigrantes numa situação particular de vulnerabilidade devido à falta de raízes e recursos económicos. É por isso que, desde o início da operação policial, se tem velado pelo restabelecimento social das pessoas que estavam alojadas pela organização desarticulada e, para isso, contou-se com a colaboração da Embaixada do Nepal em Espanha, mediadores culturais e associações de cidadãos nepaleses”, apontou a Guardia Civil, que deu conta de que a Cruz Vermelha Espanhola forneceu “alimentos e roupas quentes, e, em colaboração com a Junta de Comunidades de Castela-La Mancha, providenciou alojamento alternativo para algumas das vítimas cuja situação era especialmente vulnerável”.
Aquele organismo está, de igual modo, a contribuir para a regularização da situação legal dos imigrantes, processo no qual participa ativamente a Subdelegação do Governo de Espanha em Albacete. Até ao momento, foi possível “realojar um bom número de imigrantes noutros locais onde estes tinham algum enraizamento, esperando-se que a situação social se normalize gradualmente”.
Dos 11 detidos, seis ficaram sujeitos a prisão preventiva sem fiança. Apesar de a operação ter sido dada como concluída, não são descartadas novas detenções.
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