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Escritor guineense defende divulgação de votos na Guiné-Bissau
- 11/12/2025
Amadú Dafé, jurista e escritor guineense, afirmou, à margem do Congresso Internacional Independências africanas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que considera o golpe de Estado militar como uma encenação, "um disfarce para a perpetuação de um regime ditatorial que se instalou no poder da Guiné-Bissau desde 2020", ano em que tomou posse Umaro Sissoco Embaló, destituído por militares identificados como seus próximos no passado dia 26 de novembro, véspera do anúncio dos resultados das eleições realizadas a 23 desse mês.
Em declarações à Lusa, o escritor descreveu a reação da maioria da população como de completa indiferença, devido à imensa vulnerabilidade e às preocupações básicas de sobrevivência, como por exemplo a preocupação com a alimentação.
"A população, que nunca conseguiu ter sequer espaço porque lida com situações de imensa vulnerabilidade, as pessoas não têm o que comer, não conseguem no dia-a-dia dinheiro sequer para comprar arroz e outras pequenas coisas para o seu próprio sustento, as pessoas acabam por ficar completamente indiferentes", sublinhou.
Segundo o ativista, "O Estado não consegue chegar às pessoas", havendo assim facilidade de se instalarem no poder regimes militarizados.
O apresentador do programa Mar de Letras, da RTP África, rejeitou a ideia de um Governo de transição como solução, considerando-a antidemocrática, e defendeu "a divulgação do resultado da eleições" e "a investidura no poder de quem efetivamente ganhou as eleições".
"A nossa esperança é essa. A luta tem de ser só e tão somente essa luta, porque misturar esta luta com outras possibilidades é, de alguma forma, inviabilizarmos a possibilidade do próprio povo tomar conta do seu destino", salientou.
Amadú Dafé manifestou receio de que quem tomou o poder não o largue, mesmo com a pressão internacional, e que tente escamotear a continuidade com a ideia de um Governo de transição ou futuras eleições, o que considerou ser um caminho errado.
Em relação às restrições à comunicação social e à liberdade de expressão no país, o escritor guineense declarou que elas já existem "desde o dia em que Umaro Embaló se instalou no poder, desde essa data até agora nada mudou".
"Infelizmente, só agora é que se está a ver claramente que aquilo que sempre se denunciou nunca foi propriamente um regime sério, um regime democrático", afirmou, acrescentando: "Foi simplesmente alguém ou um conjunto de pessoas que se instalaram no poder para o clientelismo, para o nepotismo e para, sobretudo, o narcotráfico, que, para nós, tem sido sempre a base de sustentação deste regime e, sobretudo, servir também de trampolim e de ponte para a continuidade do processo neocolonial que muitos países, infelizmente, ainda mantêm na sua relação com a África".
Questionado sobre o real impacto da suspensão da Guiné-Bissau pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e pela União Africana (UA), o ativista disse esperar um posicionamento firme das organizações regionais e internacionais em linha com os seus princípios fundacionais, nomeadamente, "o Estado de direito democrático, a democracia e a liberdade".
Amadú Dafé concluiu apelando à intransigência em relação à violação destes princípios e aplaudindo a sugestão do chefe de Estado de Timor Leste, José Ramos Horta, para a suspensão da Guiné-Bissau da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a sua substituição na liderança rotativa da organização, medida igualmente proposta pelo Conselho de Ministros da comunidade e que deverá ser analisada na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo.
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