Dez anos após atentados de Paris, ameaça jihadista muda mas mantém-se

  • 09/11/2025

Em 2015, ambas as organizações tinham líderes reconhecidos -- Abou Bakr al-Baghdadi, no caso do EI, e Ayman al-Zawahiri, no da Al-Qaida --, estruturas centrais fortes e capacidade para formar e enviar comandos à Europa com o objetivo de realizar atentados.

 

Atualmente, "a estrutura das duas grandes centrais de comando está consideravelmente enfraquecida, os chefes são pouco conhecidos e provavelmente pouco envolvidos na gestão direta da ameaça", resume uma fonte de segurança francesa.

"Assistimos a uma reconfiguração deste movimento jihadista, com algumas frentes onde as suas filiais continuam particularmente ativas", explicou à agência noticiosa France Presse (AFP) Marc Hecker, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

Para o também coautor da obra A Guerra de Vinte Anos: Jihadismo e Contraterrorismo no Século XXI, esses grupos estão atualmente, porém, "longe do mundo ocidental". 

"Atuam sobretudo em África, no Médio Oriente e na Ásia", concorda também Alexandre Rodde, do centro de investigação da Gendarmaria Nacional Francesa e da Universidade de Coventry, no Reino Unido.

Ainda assim, a ameaça mantém-se forte no Ocidente, onde as ações inspiradas pela propaganda e pelos conteúdos jihadistas em linha continuam numerosas. E "o objetivo estratégico último, tanto da Al-Qaida como do Daesh (acrónimo árabe do EI), não mudou: o estabelecimento de um califado global", observa Hecker.

O EPICENTRO AFRICANO

"A maioria das ações mortais destes grupos ocorre em África", resume a fonte de segurança. O número estimado de jihadistas do grupo EI na Síria, entre 1.000 e 1.500, é muito inferior ao das suas forças na África Ocidental, nas regiões do lago Chade e da Nigéria (6.000 a 7.000), ou no Sahel (2.500).

No Sahel, o JNIM (Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos), ligado à Al-Qaida, está em plena expansão e ameaça a sobrevivência de vários regimes da região, incluindo o da junta maliana.

"Há um receio crescente de que a queda do Mali provoque um efeito dominó sobre outros governos da região, nomeadamente no Burkina Faso e/ou no Níger, e teme-se que essa dinâmica leve os jihadistas a avançar por toda a África Ocidental até à costa", alerta o centro de análise norte-americano Soufan.

O JNIM "atingiu um nível de capacidade operacional que lhe permite conduzir operações complexas, combinando drones, engenhos explosivos e um elevado número de combatentes", referia em julho passado um relatório das Nações Unidas, que sublinhava a intenção do grupo em afirmar-se como ator político local.

Até ao momento, porém, nem o JNIM nem a filial local do EI, o EIGS, projetaram ataques fora das suas zonas de atuação.

No resto do continente, o grupo "Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP)" é uma das filiais mais ativas, enquanto no Corno de África "o principal ator continua a ser o movimento Al-Shebab, ligado à Al-Qaida", resume Hecker.

A SÍRIA

Foi o "ventre" de onde nasceu o 13 de novembro de 2015. Nessa altura, "o santuário sírio-iraquiano atraía muita gente", com entre 40.000 e 50.000 estrangeiros, recorda Marc Hecker.

Hoje, o "Estado Islâmico sobrevive em algumas zonas, mas já não tem a capacidade de mobilização de outrora", explica Rodde.

"Com a queda do regime [sírio] de Bashar al-Assad, aumentou a liberdade de movimento dos jihadistas", observa a fonte de segurança francesa, acrescentando que "o EI aproveitou essa oportunidade: saiu do seu santuário no deserto de Badiya e reimplantou-se no noroeste e em Damasco, com o objetivo de desestabilizar o poder".

O EI-K, O RISCO POLÍTICO

O Estado Islâmico no Khorasan, ativo sobretudo no Afeganistão e no Paquistão, "é atualmente a filial mais ativa, responsável pelo ataque de março de 2024 ao Crocus City Hall, em Moscovo", explica Rodde, acrescentando que também atacou o Irão em janeiro do mesmo ano. O grupo "mantém uma capacidade de recrutamento no seio das diásporas". Contudo, encontra-se em recuo. 

"A sua capacidade de ação foi consideravelmente reduzida", explica a fonte de segurança. "Os talibãs travam-lhe uma guerra feroz e eficaz", e, por outro lado, as operações contra o seu núcleo de combatentes russófonos na Síria tiveram sucesso.

A EUROPA SOB AMEAÇA SILENCIOSA

A natureza da ameaça na Europa mudou. Em 2024, "a França frustrou nove atentados jihadistas", sublinha Marc Hecker, e cinco ataques foram concretizados desde julho de 2024. Causaram "poucas mortes, mas basta uma ligeira diferença de perícia para se tornarem muito mais letais".

"Passámos de uma ameaça dita projetada (...) para uma que é hoje tipicamente endógena", explica à AFP o procurador antiterrorista francês, Olivier Christen, referindo-se a "indivíduos que estão em território francês, nunca o deixaram e não têm necessariamente ligações diretas a organizações terroristas, mas delas se inspiram".

Trata-se frequentemente de "processos de autorradicalização extremamente rápidos, ocorridos na internet e nas redes sociais", de acordo com a fonte de segurança.

Contudo, continuam a existir ameaças teleguiadas a partir de zonas jihadistas, através de membros de diásporas residentes em países ocidentais.

Leia Também: Paris aconselha cidadãos franceses a abandonarem temporariamente Mali

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2885110/dez-anos-apos-atentados-de-paris-ameaca-jihadista-muda-mas-mantem-se#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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