"Comigo Presidente, o Chega nunca será Governo"
- 21/10/2025
"Comigo Presidente, o Chega nunca será Governo. Porque a minha luta é uma luta pela cultura política. E é uma luta para conquistar maiorias em nome da decência e da democracia. E se este caminho for bem-sucedido, não haverá um país que dê ao Chega esse poder", defendeu a antiga coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), em entrevista à agência Lusa.
Questionada sobre o que faria enquanto Presidente da República num cenário no qual o Chega vencesse as eleições legislativas, Catarina Martins manifestou-se confiante de que "haverá sempre soluções que passam pela democracia e pela decência".
"O que lhe digo é: o mesmo país que der força à minha candidatura, que me possa eleger como Presidente, que possa fazer este espaço político forte, é o mesmo país que nunca permitirá que o Chega tenha esse tipo de poder", sublinhou.
A candidata a Belém disse ter "um entendimento muito literal da Constituição da República", afirmando que "forma Governo quem tiver maioria" para o fazer.
"E no que depender de mim, as maiorias nunca serão feitas numa democracia com quem não respeita a democracia. E também no respeito pela Constituição: nunca um partido que não quer cumprir a Constituição, que aliás tem afirmações sucessivas de querer subverter a própria Constituição da República Portuguesa, pode fazer parte de um Governo ou de uma maioria de Governo", acrescentou.
Para Catarina Martins, a sua candidatura a Belém e o eventual resultado que possa ter "é a maior força que existe para travar qualquer cenário desse tipo".
Numa entrevista na qual se escusou a traçar metas eleitorais concretas, afirmando que o seu objetivo "é não deixar que esta campanha presidencial seja o enterro da democracia em Portugal", a ex-líder do BE rejeitou uma corrida "fechada à partida".
Distanciando-se do atual Presidente da República, Catarina Martins criticou Marcelo Rebelo de Sousa por ter dissolvido diversas vezes o parlamento devido a chumbos do Orçamento do Estado e disse que não fará o mesmo caso seja eleita para o cargo.
"Eu inspiro-me em soluções que na Europa são comuns, de se promover novas negociações para se chegar a entendimentos. A negociação permanente, que respeita o quadro parlamentar que sai das eleições, é muito importante", realçou.
Já sobre se admitiria fazê-lo caso o primeiro-ministro, Luís Montenegro, seja acusado num inquérito-crime em relação ao caso da empresa familiar Spinumviva, Catarina Martins defendeu que um chefe de executivo "sob fortes suspeitas não tem condições" para ficar no cargo, apesar de respeitar o direito à presunção de inocência.
Contudo, na ótica da ex-líder do BE, "o primeiro passo" terá sempre que ser o de encontrar alternativas a dissolver o parlamento.
"Quando o Presidente da República introduziu essa característica ao dissolver o parlamento quando não houve entendimento sobre o Orçamento do Estado, o que estava a dizer é que o partido que está no Governo, em vez de estar obrigado a negociar e a entendimentos, pode simplesmente fazer uma chantagem para ir provocando eleições, vitimizando-se e tentar ter maioria absoluta", criticou.
Catarina Martins considerou ainda inadmissível que Marcelo Rebelo de Sousa "não tenha capacidade para dizer nada sobre o que se passa no Serviço Nacional de Saúde e a atuação da ministra da Saúde" - o chefe de Estado tem remetido para futuro uma declaração sobre o tema - ao invés de se pronunciar "sobre todos os casos e todas as coisas absurdas que passam pela Assembleia da República".
Questionada sobre prioridades de um eventual mandato, a eurodeputada defendeu a necessidade de iniciar "um processo de refundação do Serviço Nacional de Saúde", com acesso público e universal, e no qual mulheres grávidas não receiem "quando chega a hora de dar à luz".
Catarina Martins tenciona pressionar o Governo a agir neste campo, utilizando "a magistratura de influência", que "não é defender um partido contra o outro" mas sim "defender o povo português".
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