Cavaco Silva diz que próximo PR precisa de ter "experiência política"
- 18/09/2025
O antecessor de Marcelo Rebelo de Sousa elencou uma série de caraterísticas que considera essenciais para o próximo ocupante do Palácio de Belém.
Num artigo publicado no Expresso, Aníbal Cavaco Silva (primeiro-ministro de 1985 a 1995 e, depois Presidente da República de 2006 a 2016) enumera seis “regras de comportamento” que diz ter retirado da “experiência e dos conhecimentos acumulados no exercício destas funções”.
“Destaco: o respeito da Constituição e dos procedimentos da democracia, a defesa da estabilidade política, a isenção e independência em relação às diferentes forças partidárias e às tensões entre Governo e oposição, a sobriedade, não alimentar intrigas políticas em relação a quem quer que seja e falar verdade aos portugueses”, afirma.
Cavaco Silva considera que “o respeito destas regras e procedimentos de bom senso, verdadeiros pilares do exercício das funções de um qualquer digno Presidente, é condição necessária à sua atuação na defesa dos superiores interesses nacionais”. E acrescenta: “Condição necessária mas não suficiente.
O antigo chefe de Estado alerta que “em campanha, os candidatos a Presidente podem prometer tudo e mais alguma coisa e dizer os maiores disparates”. Contudo, realça, “é sabido que não cabe ao Presidente legislar ou decidir e executar políticas [...] É uma figura eminentemente política, eleita por sufrágio universal, a quem cabe um papel constitucional próprio”.
Cavaco Silva considera que um bom Presidente para poder “contribuir para a realização do superior interesse nacional” tem de ter, obrigatoriamente, “uma boa dose de experiência política”.
“Sem o conhecimento efetivo do funcionamento das instituições da nossa democracia, das especificidades da vida partidária e das tarefas da governação, suas exigências, condicionantes e dificuldades dificilmente conseguirão materializar uma magistratura de influência positiva”, garante o ex-chefe de Estado.
“Estes são também requisitos essenciais para que um candidato eleito Presidente da República possa atuar como reserva de último recurso se o país for atingido por uma crise grave”, afirma.
O ex-chefe de Estado relembrou que, no, seu caso, perante a crise económica na primeira década de 2000, teve de se multiplicar em “contatos com os presidentes do Conselho Europeu, da Comissão Europeia, do Eurogrupo e do Banco Central Europeu e com chefes de Estado de países da União Europeia.”
Almirante e Ventura de fora da lista de Cavaco
Cavaco Silva não revela, nunca, qual dos candidatos considera mais apto para o cargo e, na realidade, não há sequer indícios de que mostre apoio a quem quer que seja para as próximas eleições presidenciais. O texto aparenta ter como objetivo fazer com que os eleitores questionem quem, de facto, irá servir melhor o país.
“Será que todos os candidatos a Presidente que já se perfilam possuem a experiência política, os conhecimentos e os atributos pessoais para promoverem a magistratura de influência que o país vai precisar nos próximos cinco anos e para atuarem em caso de crise grave ou situações lesivas do superior interesse nacional?”, questiona o antigo presidente, que responde de seguida à sua própria pergunta.
“Falar é relativamente fácil, fazer bem é mais difícil”, afirma.
As caraterísticas elencadas por Cavaco Silva deixam de fora dois dos principais candidatos políticos já conhecidos: o almirante Gouveia e Melo e o presidente do Chega, André Ventura. Ambos pela mesma razão: não têm experiência em cargos políticos.
Na lista resta apenas Luís Marques Mendes (que pertence ao PSD, partido também de Cavaco Silva), que assumiu o cargo de ministro dos Assuntos Parlamentares no governo de Durão Barroso; e António José Seguro (do PS), que foi brevemente ministro adjunto do primeiro-ministro, na altura, António Guterres.
Leia Também: PSD disponível para discutir intervenção da PJ no bloqueio de conteúdos terroristas