Carris diz desconhecer falhas de empresa externa responsável pela manutenção
- 20/10/2025
No relatório preliminar do acidente, hoje divulgado e a que a Lusa teve acesso, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) diz que as inspeções previstas para o dia do acidente "estão registadas como executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado na correspondente folha de registo".
No comunicado, a Carris destacou que o conselho de administração da empresa desconhecia "toda a factualidade descrita" no relatório, quando aponta que o atual prestador dos serviços, a MNTC, pode não ter cumprido devidamente o contrato, uma vez que "este incumprimento nunca foi reportado pela Direção de Manutenção do Modo Elétrico, nem pelo Gestor do Contrato, que aliás reiteraram a máxima confiança no desempenho desta empresa, mesmo após o acidente ter ocorrido".
"De momento, estão a ser apuradas as respetivas responsabilidades, sendo que o Diretor de Manutenção do Modo Elétrico foi, entretanto, demitido", acrescentou.
A empresa de transportes destacou ainda que "nunca foi transmitida à administração da empresa, nem foi feita qualquer proposta técnica nesse sentido" relativamente à perceção de técnicos e trabalhadores "de que a segurança do sistema dependia inteiramente do cabo e que o sistema de freio não era eficaz para imobilizar as cabinas sem o cabo", como é apontado no relatório.
"Aliás, o relatório reitera que não foram comunicadas quaisquer queixas relativas à manutenção dos ascensores e elevador, nem sequer, como já se referiu, sobre o alegado desempenho deficiente do prestador de serviços da manutenção dos ascensores", acrescentou a Carris.
A Carris considerou também que, "enquanto mero operador", não aceita "que se encontre na sua exclusiva responsabilidade os aspetos relativos à segurança da operação dos ascensores", como é entendimento no relatório, "por manifesta falta de habilitação legal e contratual para definir a regulação técnica e de segurança aplicável à entrada em serviço e exploração do Ascensor da Glória e para proceder à respetiva (auto)supervisão".
"A regulação técnica e respetiva supervisão do Ascensor da Glória deve incumbir muito claramente à entidade da administração indireta do Estado com vastas e históricas atribuições nesta matéria (atualmente o IMT, IP)", defendeu, salientando que o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres), "com base na lei vigente e noutras disposições regulamentares", exerce já esta regulação em "vários equipamentos similares integrados no estabelecimento da concessão da Carris (Elevador de Santa Justa e Ascensor da Bica)".
O acidente com o elevador da Glória, ocorrido em 03 de setembro, causou 16 mortos e cerca de duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
A investigação ao acidente do elevador da Glória detetou falhas e omissões na manutenção do ascensor, apontando também a falta de formação dos funcionários e de supervisão dos trabalhos efetuados pela empresa prestadora do serviço.
Segundo os investigadores, "embora as ações de manutenção contratualmente previstas e planeadas estivessem a ser registadas como cumpridas em sistema de registo próprio, ao qual a Carris tem acesso direto, foram recolhidas evidências de que tal registo não corresponde às tarefas que efetivamente foram executadas".
Na nota, a Carris indicou ainda que vai aguardar "o relatório final para uma pronúncia mais abrangente e concreta sobre o apuramento das causas do acidente", uma vez que o documento refere que a informação apresentada é "ainda incompleta", pelo que não deve "o seu conteúdo ser entendido como conclusões integradas e finais sobre o acidente".
A Carris insistiu que está a proceder "a diversas auditorias internas e externas no âmbito da Qualidade, sendo detentora de várias certificações" e afirmou que irá elaborar um plano de implementação após "analisar e pronunciar-se sobre as recomendações" que lhe forem remetidas pelo GPIAAF.
Em reação ao relatório preliminar, a transportadora lisboeta destacou ainda que o Ascensor da Glória tem registado nos últimos anos "uma utilização estável", mas os "níveis de utilização deste ascensor (em viagens e em número de passageiros) estavam, em 2025, abaixo dos números de 2005".
A agência Lusa questionou a empresa externa contratada pela Carris, responsável pela manutenção do elevador da Glória, mas Ricardo Serrano Vieira, advogado da MNTC -- Serviços Técnicos de Engenharia, Lda, remeteu para mais tarde uma reação ao relatório preliminar do GPIAAF.
Segundo a Carris, há mais de 20 anos que a manutenção dos subsistemas dos ascensores da Glória, Bica e Lavra e do elevador de Santa Justa está contratada a um prestador de serviços.
O atual prestador, a MNTC, "assegura a manutenção desde 2019".
[Notícia atualizada às 21h12]
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