Camponeses em fuga devido à circulação de alegados terroristas em Metuge
- 21/10/2025
Segundo os camponeses, os movimentos destes grupos armados naquela zona, a 60 quilómetros da sede do distrito de Metuge, começaram no final de setembro, com o sequestro de uma mulher, que mais tarde conseguiu escapar.
"A situação não está boa, os homens estão a andar lá nas matas", relatou uma fonte da comunidade, já a partir de Metuge, após abandonar o seu campo agrícola.
Acrescentou que a situação afeta sobretudo camponeses de Metuge sede, Sauli, Nacuta, Walopwana, Ponto A e Matemo, que estavam a trabalhar as terras agrícolas e a abrir novos campos de produção, mas que devido ao medo de novos ataques estão a sair em debandada.
"São pessoas que já estavam a abrir novas porções de terras. Mas temos medo dos terroristas, por isso abandonamos", lamentou outra fonte.
Alguns populares das aldeias de Impiri, em Metuge, e Intutupue, no distrito de Ancuabe, relataram segunda-feira a travessia de grupos de insurgentes ao longo da estrada Nacional 1, em direção ao norte da província.
"Não dormimos, os terroristas passaram entre Impiri e Intutupue", disse outra fonte, a partir de Metuge.
A ONU estimou hoje que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado, província moçambicana que enfrenta uma insurgência armada há oito anos.
De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".
Oito anos depois do primeiro ataque, o Governo afirmou este mês que continua a fazer esforços para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades permaneçam nos lugares de origem em paz.
Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.
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