Balsemão? Podia ter-se aproveitado mais a sua "excecional qualidade"
- 23/10/2025
Em declarações aos jornalistas, à saída da missa que antecedeu o funeral do antigo primeiro-ministro, realizada no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, Rui Rio descreveu Francisco Pinto Balsemão como um homem "intelectualmente honesto, coerente, corajoso".
Sobre o período em que Balsemão assumiu a presidência do PSD, após a morte de Francisco Sá Carneiro, e chefiou dois governos da AD, entre 1981 e 1983, Rui Rio afirmou que "o partido achava que o substituto do doutor Sá Carneiro tinha de ser igual ao doutor Sá Carneiro".
"Isso é impossível, porque o doutor Sá Carneiro também não era igual ao doutor Balsemão. E por isso nós podíamos ter aproveitado um homem de excecional qualidade na vida pública. Aproveitámos muito menos, então na figura de primeiro-ministro só dois anos, dois anos e pouco", considerou.
O ex-presidente do PSD referiu que então Balsemão "foi para a vida empresarial" e, na sua opinião, "tudo aquilo que ele fez na vida empresarial até aos últimos dias da sua vida prova que era um homem de uma excecional qualidade, que se tivesse estado mais uns anos como primeiro-ministro o país podia ter ganho muito".
"Como, aliás, no curto espaço de tempo, claro, enfim, os tais dois anos, também assim o provou e fez reformas importantes, a começar logo pela reforma constitucional de 1982", acrescentou.
Esses "momentos dos anos 80, que até foram mais escassos" do que os de outros períodos, são os que Rui Rio mais recorda.
"Quando nós somos novos aquilo marca muito, e na altura aquilo marcou-me muito e pôs-me ao lado do doutor Balsemão do ponto de vista racional na altura, mas também do ponto de vista emocional, porque, com os 20 e tal anos que eu tinha, quando via as injustiças que lhe cometiam, eu ainda ficava mais ao lado dele do ponto de vista emocional", relatou.
Nestas declarações aos jornalistas, Rui Rio falou também do período em que liderou o PSD, entre 2018 e 2022, e recordou uma conversa telefónica que teve com Balsemão quando se candidatou pela primeira vez à presidência do partido e o convidou para ser seu mandatário ou presidente da comissão de honra.
Segundo Rui Rio, nessa conversa de "provavelmente mais de uma hora" Balsemão fez-lhe sucessivas perguntas para avaliar o seu "grau de social-democrata, precisamente porque nessa altura ele tinha uma preocupação de que o partido tinha-se desviado um pouco da social-democracia, tinha-se desviado um pouco para a direita".
"Então eu fui sujeito ali a um exame pesado. Quem o conheceu bem sabe que não era uma conversa ligeira. E pelos vistos passei no exame e ele, entre mandatário e presidente da comissão de honra, escolheu a comissão de honra", completou.
Sobre a sua liderança, Rui Rio disse ainda que a ideia de "Portugal ao centro" teve "influência do doutor Balsemão", mas lembrou também ocasiões em que o militante número um do PSD lhe apontava "este ponto ou outro", embora "sempre leal, sempre correto".
Interrogado se o atual PSD, presidido por Luís Montenegro, passaria no exame de Balsemão, Rui Rio respondeu que não era o momento adequado para falar disso.
O antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão, fundador e militante número um do PSD, do qual também foi presidente, morreu na terça-feira, aos 88 anos.
Francisco Pinto Balsemão presidia ao grupo de comunicação social Impresa, do qual fazem parte o Expresso, que criou ainda durante a ditadura, em 1973, e a SIC, primeira televisão privada em Portugal, criada em 1992.
Em 1974, após o 25 de Abril, fundou, com Francisco Sá Carneiro e Magalhães Mota, o Partido Popular Democrático (PPD), mais tarde Partido Social Democrata Partido Social Democrata (PSD).
Era membro do Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República.
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